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28/03/2011

A Lenda dos Caiapós




O Caiapó é um folguedo popular, que relembra as tradições indígenas e aparece em Poços de Caldas na Festa de São Benedito. Seus dançadores se apresentam vestidos com uma saia comprida feita de capim membeca, blusa de pano coberta de penas de galinha e um cocar colorido na cabeça. Eles pintam o corpo de azul e vermelho, enfeitam tornozelos e pulsos. Levam na mão arcos, flechas e espadas de pau.

Suas danças, apesar do ritmo marcado pelos chocalhos, caixas e reco-recos, não apresentam canto, pois eles alegam que sendo indígenas, só poderiam cantar em tupi-guarani e não seriam entendidos. Como não falam o português, preferem ficar mudos. Seus principais personagens são: o "Chefe" ou "Cacique", os "Flecheiros", os "Violeiros", o "Meleiro", que simula tirar o mel do solo ou das árvores e as "Bugrinhas", (caiapozinhos) que, apesar de protegidas pelos flecheiros, são raptadas por pessoas do povo. Quando as devolvem, os raptores dão algum dinheiro para o grupo.

Esse bailado existe desde o início da colonização brasileira e sobre sua origem de dançadores poços-caldenses contam a seguinte lenda:

Na época do Brasil Colônia havia diversas missões jesuíticas espalhadas pelo país, com a finalidade de catequisar os índios. Na Capitania de São Paulo um dos padres da Companhia de Jesus sofria de um mal cutâneo incurável. Apesar de todos os recursos da medicina de então, seu corpo estava coberto de chagas. Receoso de contaminar seus companheiros ele resolveu abandonar o convívio dos irmão de congregação e embrenhou-se na selva, infestada de antropófagos.

Tinha andado apenas alguns quilômetros, quando se viu cercado de temíveis bugres, que o arrastaram através da mata, levando-o para uma taba nativa. Quando a comitiva chegou, houve grande alvoroço, pois os silvícolas acreditavam que a carne do padre era santa e se eles a comessem iriam para o céu. Amarraram então o pobre religioso numa estaca e chamaram o cacique. Este, após examinar o prisioneiro, mandou chamar o feiticeiro, que surgiu estranhamente vestido e disse algo ao chefe, apontando para o mato.

Apavorado, pensando que sua hora havia chegado, o sacerdote viu os índigenas cavarem um profundo buraco, onde colocaram lenha seca e atearam fogo, cobrindo depois a cova com grades de madeira e folhas. Contudo, ele só foi levado para lá no dia seguinte, quando o despiram e o fizeram descer na cavidade. Os naturais da terra cobriram a boca da cova com galhos de árvores, de modo que o local parecia uma fornalha. Após permanecer ali várias horas, quando seu corpo estava totalmente coberto de suor, viu que o cacique lhe lançara um cipó e fazia sinal para que ele subisse. Ao chegar lá em cima, dois índios o agarraram e jogaram-no dentro do rio, mergulhando-o umas três vezes na água fria. Levaram-no em seguida para uma palhoça e o deitaram sobre esteiras, cobrindo-o com penas de aves.

Cansado devido ao tratamento e às emoções vividas durante o dia, o padre dormiu profundamente e acordou bem disposto e com muita fome. Qual não foi sua surpresa, quando lhe trouxeram enorme variedade de comidas típicas, que ele engoliu num instante, com visível satisfação, agradecendo depois as indígenas, que o observavam. Comunicando-se por gestos soube que os bugres tencionavam devorá-lo, mas como estava gravemente doente, resolveram curá-lo primeiro. No entanto, simpatizaram com ele e decidiram libertá-lo.

Após ter repetido algumas vezes o tratamento da fornalha, o jesuíta pediu aos índios que pertenciam à tribo dos Caiapós, para voltar à missão e eles o largaram perto da aldeia. Grande foi a alegria de seus companheiros ao verem-no cheio de saúde e rejuvenescido, quando pensavam que já estivesse morto. Em sinal de agradecimento, os padres enviaram emissários ao cacique para convidá-lo a vir com seus homens no arraial, a fim de festejarem o acontecimento. Os gentios então dançaram na praça defronte a igreja e se irmanaram com os inacianos, dando graças a Deus. Dali por diante, sempre que havia uma festa religiosa, os indígenas eram convidados a dançar e devido à denominação da tribo, a folgança foi batizada com o título de Caiapó.

Desde aquela ocasião o bailado se espalhou pelo Brasil e, apesar das transformações sofridas durante os séculos, o Caiapó continua a ser dançado em várias partes do território nacional, homenageando os padroeiros das cidades onde se localizavam os grupos. Assim o folguedo aparece na Festa de São Benedito para reverenciar o humilde santo, que pelas suas virtudes conquistou a glória dos altares.

MEGALE, Nilza Botelho. Memórias Históricas de Poços de Caldas, Gráfica Sulminas, Poços de Caldas, 2002.

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